No dia cinco do corrente a freguesia de S. Mateus veio ao Cemitério das Lajes prestar, junto da respectiva campa, homenagem ao Pe. Filipe Madruga, que foi Pároco daquela freguesia e reitor do Santuário do Bom Jesus. Nunca é tarde para se praticar um acto de justiça.
O Pe. Filipe nasceu numa casa da Silveira das Lajes do Pico – que infelizmente está agora em ruínas – a 23 de Setembro de 1922. Se vivo fosse, teria agora 91 anos, mas faleceu bastante novo ainda, em 4 de Novembro de 1984, com 62 anos de idade.
Como disse, foi pároco de S. Mateus e reitor do santuário do Bom Jesus durante vinte anos, depois de haver sido cooperador da Matriz das Lajes e pároco de S. Caetano.
Diz um seu biografo: “Criou várias festas religiosas. Conseguiu o título de Matriz para a Paroquial de S. Mateus e a aprovação dos textos para a Missa própria em honra do Senhor Bom Jesus”. 1.) E continua: “Foi também pelo seu empenho que a Igreja de S. Mateus foi sagrada, a 20 de Setembro de 1968, pelo Sr. D. Jaime Garcia Goulart, então Bispo resignatário de Díli.
Em Agosto de 1968, fundou o boletim paroquial “Ecos do Santuário” que manteve até morrer. Nele ia registando os principais acontecimentos da vida sócio-religiosa de São Mateus”.
Faleceu quando, em Angra, tomava parte na ordenação sacerdotal de um seu paroquiano.
No número especial de “Ecos do Santuário”, dedicado ao seu Fundador aquando do prematuro falecimento, escreve um dos colaboradores:
“Adquiriu para a Igreja um motor que, durante muitos anos, forneceu energia eléctrica às ruas principais e às casas da freguesia. Promoveu a construção do melhor campo de jogos da ilha do Pico. Cedeu instalações para escolas e casa do Povo, seguindo, no primeiro caso, o exemplo do seu antecessor. Por sugestão do Senhor D. Manuel Afonso de Carvalho, emprestou dinheiro da igreja aos paroquianos necessitados, que desejavam investir em melhoramentos de carácter social. E era por sugestão do mesmo Prelado que ele, utilizando os fundos da Paróquia, ajudava seminaristas, outros estudantes pobres ou algumas vítimas de cataclismos.” (Olívia de Jesus Pereira).
E muito mais realizou na freguesia, como dois coretos e as ermidas Mãe da Igreja e Nossa Senhora da Alegria, das Relvas.
“Ecos do Santuário” foi um Boletim Paroquial de grande prestígio, por ele fundado e dirigido, como acima se diz. Não se limitava à vida paroquial mas registava os mais diversos assuntos locais e nacionais, para o que conseguiu ter um escol de colaboradores.
Quem pretender fazer a historia da freguesia de S. Mateus tem de valer-se de “Ecos do Santuário”, publicado durante dezasseis anos.
No número especial a que venho de referir-me, escreve o Dr. Rogério Gomes, ao tempo ouvidor das Lajes e Vigário Episcopal da Ilha do Pico:
“O Padre António Filipe Madruga exerceu, com seriedade, o ministério da Palavra. Gostava de pregar. E fazia-o com distinção e agrado. Dotado de uma voz bem timbrada e duma memória privilegiada, que lhe permitia decorar textos inteiros que escrevia, com cuidado, era solicitado para os sermões de festas, no Pico inteiro e, muitas vezes, foi para outras solenidades importantes da vizinha ilha do Faial e outras.”
Um facto importa aqui ressalvar:
No primeiro número de”Ecos do Santuário” é publicado o Decreto de D. Manuel Afonso de Carvalho, Bispo de Angra, datado de 1 de Julho de 1962.
E nesse decreto se prescreve: “Havemos por bem elevar à categoria de “SANTUÁRIO DO BOM JESUS MILAGROSO” a igreja Paroquial de São Mateus da Ilha do Pico”. E o mesmo Prelado, por despacho de 20 de Junho de 1972, concede à Paroquial de S. Mateus o título de “Igreja Matriz”.
Os restos mortais foram há anos, trasladados, por decisão das Irmãs do P. Filipe, então ainda vivas, do Cemitério de Angra para o desta vila e foram depositados em sepultura da Família Filipe Madruga.
Não esqueço a amizade que o P. Filipe me dispensava e à minha família e por isso estou aqui a recordá-lo com muito sentimento.
1.)
Jornal “Ecos do Santuário”, 1984
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